Os dias e as dores dos dias
cobram à exaustão o meu ofício:
Vim aos mundos ser poetas
Ainda que em passos recentes
eu tenha sido fungo ou bactéria
árvore lodo água montanha ou gramínea
sou a poeira cósmica do big-bang
Manhãs e adormeceres rebentam-me os ouvidos
Pulsos e pulsares do peito me anunciam guerreiro
a lutar pela salvação do homem
Impuro ou purificado
tenho texto na testa em letras escarlates:
Venho às vidas e aos mundos ser poetas
II
É por fúria de justiça que amo o ser humano
Poeta de ofício
zelo para que acordes em paz
ao teu digno dia de trabalho e amor
Acaso me descuide de tanto zelo
acordarás sem a honra do teu labor
nem a amada no leito a acolher-te
Por isso a permanente vigília
O verso e a voz em riste
para iguais conquistas de todos
Compartilho do teu largo riso por estares feliz
mas culpo-me acaso a felicidade não te venha
III
Guilhotina estas mãos escrevinhadoras
se elas não forem os poemas
que te libertarão das misérias e desigualdades
Animal furioso ou homem bom
defendo com adagas de luz e força-tarefa
a segurança da tua vida de justo
IV
Os tempos e as vozes dos tempos
rebentam-me os ouvidos
cobrando os afazeres de meu ofício:
Vim aos mundos ser poetas
Cristo e os cães do peito
gritam gritam para que eu te guarde:
Venho às vidas e aos mundos
ser os teus poetas de guarda
Publicado no livro Ofício de poeta, Editora Scipione,
para o Ministério da Educação, distribuído à rede escolar brasileira.
Tiragem de 8.000.000 de exemplares.